A professora orientadora do Programa de Pós-Graduação em Microbiologia Agrícola Poliane Alfenas está de volta à Viçosa após um ano na Universidade da Califórnia, no campus de Berkeley. Na universidade americana, ela trabalhou ao lado da professora Britt Koskella em diferentes projetos envolvendo ecologia e evolução microbiana, com foco especial nos vírus que infectam microrganismos. “O que me chamou a atenção no trabalho dela é que são estudos que envolvem plantas. A maior parte desses estudos (sobre o impacto dos vírus em microbiomas) são feitos em humanos, na microbiota intestinal, e a professora Koskella trabalha com comunidades microbianas sintéticas que ela desenvolveu em plantas. Ela manipula o microbioma da planta e adiciona o vírus nessa equação, para ver como os vírus influenciam essa dinâmica. Aí casou com o que estávamos fazendo aqui”, explica Poliane.
A professora conta que viajou aos EUA com uma série de perguntas, e retornou ao Brasil com muitas respostas e, claro, uma nova leva de questionamentos. “Essa experiência certamente tem impacto grande. Eu sinto que estamos dando um salto no tipo de trabalho que estamos fazendo agora no laboratório”, conta a professora, se referindo não apenas aos objetos de pesquisa, mas também aos métodos de trabalho.
Entre os avanços que a professora conseguiu realizar em parceria com a equipe americana está um estudo sobre a evolução da virulência do vírus e o impacto disso para a bactéria hospedeira. “Conseguimos modular essa coevolução do vírus com a bactéria in vitro e com cinco passagens já foi possível observar um aumento da virulência e calcular o custo adaptativo disso para a bactéria hospedeira. Agora, a próxima etapa é tentar construir um modelo matemático para tentar predizer a evolução da virulência em outros sistemas vírus-hospedeiro“, ela adianta. “Também trabalhei em determinar quais os mecanismos de resistência e tolerância são selecionados no hospedeiro quando está infectado por vírus. Tivemos resultados mostrando as principais respostas contra infecção viral e como a coevolução da virulência e resistência vai sendo modulada ao longo do tempo.”
Outra linha de trabalho foi com a construção de bibliotecas mutantes de bactérias das espécies Rasltonia solanacearum e R. pseudosolanacearum. Essas bibliotecas foram utilizadas para identificar os mecanismos de resistência a diferentes vírus de forma isolada ou combinada dois a dois e a um coquetel contendo uma mistura de 12 vírus diferentes. “Os resultados foram muito interessantes e promissores para a utilização do coquetel de vírus para o controle da bactéria no campo, uma vez que o custo para a manutenção da resistência a todos os vírus foi muito alto para a bactéria”.
A parceria com a professora Britt Koskella continua – já foram submetidos dois projetos em colaboração para a continuação do trabalho e para o financiamento de estudantes e pós-docs brasileiros. Além disso, durante esse tempo, Poliane também estabeleceu colaboração com a professora Tiffany Lowe-Power, da UC Davis, sendo que já foi submetido um projeto em parceria para o NIH e um um segundo, de colaboração bilateral, está sendo preparado para ser submetido até o final de outubro.
Os trabalhos realizados ao longo deste ano nos EUA já renderam duas publicações. A primeira é uma revisão sobre a importância dos fatores que moldam a infecção e a replicação de vírus que infectam bactérias, e como cada um influencia a gama de hospedeiros ao longo do tempo evolutivo. A segunda é uma carta ao editor questionando mudanças que foram propostas com relação à taxonomia de uma bactéria do complexo de espécies Ralstonia solanacearum.
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