A doutoranda pelo Programa de Pós-Graduação em Microbiologia Agrícola Jojo Rodrigues está prestes a encerrar sua etapa sanduíche na Queens University of Belfast, na Irlanda do Norte. Em agosto, ela retorna ao Brasil trazendo na bagagem conhecimento e tecnologia para nanoencapsular as vacinas para peixe que ela desenvolve, sob orientação do professor Tiago Mendes, no Laboratório de Biotecnologia Molecular (LBM). Em maio, ela levou parte dos resultados de seus experimentos na Irlanda à Formative Formulation, conferência realizada pela Royal Society of Chemistry em Londres. “Estou muito satisfeita. Tenho certeza de que volto ao Brasil como uma pesquisadora melhor, mais focada, pronta para valorizar ainda mais a excelência do trabalho que desenvolvemos juntos no Brasil.”
A temporada de Jojo no exterior era um desejo antigo, e começou a se desenhar a partir das demandas que ela encontrou nos estudos desenvolvidos no Brasil. “A gente iniciou uma linha de pesquisa para vacina oral para peixe, com foco em tilápia. A apicultura sofre perdas significativas para doenças provocadas por bactérias, e isso é relevante porque a maior parte dos peixes consumidos por humanos são provenientes da apicultura. É um setor que, portanto, necessita de vacinas. Mas, atualmente, a maior parte delas é de injeção, o que dificulta demais o processo”, ela explica. Os primeiros passos foram concluídos com sucesso no Brasil, e o grupo desenvolveu e testou, com bons resultados, uma vacina oral baseada em peptídeo. Mas a combinação entre as características da vacina e do organismo dos peixes exige que o produto seja “protegido”, até que seja digerido. “O organismo dos peixes, por característica, apresenta no trato gastrointestinal uma série de barreiras nas quais essa proteína pode ser degradada. Então, optamos por nanoencapsular. E a tecnologia de nanoencapsulação que eu estou aprendendo está aqui.”
Jojo está vinculada à Escola de Farmácia da Queens, que é referência mundial na nanoencapsulação, e trabalha sob orientação da professora Sheiliza Carmali. “Queremos um encapsulamento baseado em lipídios, porque a nossa entrega tem que ser em ambientes aquáticos. Estou trabalhando com dois tipos específicos de nanocápsula lipídicas – uma baseada em lipídios sólidos, e outra que une lipídios sólidos e líquidos”, ela explica. Nesta reta final de atividades na Irlanda, a pesquisadora vem se concentrando em testes de estabilidade. “Meu objetivo é saber até que ponto nossa vacina é íntegra, até onde mantém sua estrutura. E, quando eu voltar pro Brasil, será hora dos testes de forma oral.”
Essa é a primeira vez que a professora Sheiliza colabora com o PPG Microbiologia Agrícola, mas outras oportunidades já começam a surgir daí. “Ela nos recebeu muito bem, parece gostar dos resultados até aqui. Ela, inclusive, está agora com uma parceria mais estreita com o professor Tiago para trazer outros alunos, e está também querendo ir pro Brasil, passar alguns meses com a gente.” Foi da professora a sugestão para que Jojo levasse à conferência da Royal Society of Chemistry os resultados do trabalho feito até aqui. “Estavam lá pesquisadores de várias áreas, que trabalham em empresas renomadas, com formulação de produtos para serem entregues em prateleiras. Foi muito bacana, eu pude apresentar meu trabalho. Todos se mostraram surpresos com a ideia de peixe e vacina.”
Há quase um ano na Europa, Jojo comemora a boa experiência, mas faz questão de destacar os muitos méritos do Brasil. “Minha experiência aqui tem sido excelente, mas a gente tende a superestimar muito a Europa, e a colocar o Brasil muito lá embaixo. E eu descobri que não, que o Brasil é muito bom”, ela diz, se referindo à qualidade da pesquisa desenvolvida e ao ambiente das universidades brasileiras. “São muitos desafios, culturais, pessoais, e eu, como mulher trans, vivo alguns bem específicos. Estar longe de casa nos deixa mais vulneráveis, embora a experiência seja muito valiosa.” Em termos acadêmicos, Jojo se diz surpresa com o quão rapidamente se sentiu adaptada e capaz. “Cheguei muito mais preparada do que imaginei. As universidades brasileiras estão dando um show. Quando eu cheguei, fiquei intimidada, mas vi que nossa universidade e nosso PPG, principalmente, nos prepara muito bem. Além de bem fundamentados cientificamente, a gente é muito proativo, rápido, ágil, e isso vale muito.”
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