Jaqueline apresentou em Campinas os resultados parciais da pesquisa realizada no Laboratório de Micologia e Etiologia Fúngica de Plantas

Um trabalho pioneiro envolvendo fungos que habitam as raízes da macaúba, realizado no Laboratório de Micologia e Etiologia Fúngica de Plantas da UFV, foi apresentado durante o I Congresso Internacional e II Congresso Nacional de Macaúba, entre os dias 23 e 25 de outubro, em Campinas (SP). Desenvolvido pela doutoranda do Programa de Pós-Graduação em Microbiologia Agrícola (PPGMBA) Jaqueline Aparecida de Oliveira e coordenado pelo professor Olinto Liparini Pereira, o projeto é fruto do programa CNPq MAI/DAI, e promove uma parceria entre a UFV e a empresa S.Oleum, dedicada a produção de macaúba em larga escala. O principal foco do estudo é contribuir para a cadeia produtiva da planta utilizando do potencial dos fungos no combate a doenças. 

“Nossa primeira meta era acessar e identificar, pela primeira vez, os fungos que habitam as raízes dessa planta. Mas um dos principais desafios identificados na cultura da macaúba é o controle da podridão radicular e basal do caule, doença que afeta as mudas e que até pouco tempo era de etiologia desconhecida. Então, nós elucidamos a etiologia da doença no Brasil, identificamos um oomiceto, Phytophthora palmivora, como seu agente causal e começamos a buscar, entre os fungos que encontramos na própria raiz da planta, aqueles que poderiam contribuir no combate à doença”, explica Jaqueline. Ao todo, a doutoranda e seu grupo de trabalho obtiveram cerca de 250 isolados na raiz da macaúba. “Fizemos uma triagem, e começamos a testar se alguns desses fungos poderiam inibir o agente causal da podridão. Fizemos vários testes, fomos afunilando o trabalho, até chegar em três que têm controlar a podridão radicular e basal do caule.” Destes três, dois foram descritos em artigo  e um está em processo de pedido de patente. 

Foram esses resultados que Jaqueline foi apresentar no congresso, voltado exclusivamente para a cultura da macaúba. A planta é uma palmeira nativa que tem chamado cada vez mais atenção por sua capacidade de produzir grande quantidade de óleo, com potencial para atender o mercado de biocombustíveis. “Essa é uma cultura que, de certa forma, ainda está no processo inicial de exploração comercial. O principal produto dela é o óleo vegetal, mas ela está atrelada a outra questão importante, que é o crédito de carbono. A macaúba produz muita biomassa, e é vista hoje como aliada na busca por sustentabilidade.” 

Atualmente, Jaqueline trabalha para identificar e descrever todos os novos gêneros e novas espécies de fungos encontrados, e na elaboração do pedido de patente de uso de um dos três fungos que apresentaram bons resultados contra o fitopatógeno testado. A expectativa da pesquisadora é que as descobertas feitas na raiz da macaúba possam também beneficiar outras plantas suscetíveis ao mesmo patógeno. “A gente também começou a estudar o potencial desses fungos na promoção de crescimento, na busca por entender quais ajudariam a planta crescer ou não. Estudamos isso no milho, por exemplo, e chegamos a dez isolados com potencial para promover o crescimento da planta. Só que esse é um estudo ainda em etapas iniciais de teste, e precisamos de mais tempo para investir nisso.”

Também nos próximos meses, a pesquisadora pretende focar, dentre os isolados encontrados, naqueles que têm sido estudados como aliados no alívio do estresse das plantas. “A gente sabe que a macaúba abriga esse tipo de fungo endofítico – Dark septate endophytese – e queremos aprofundar mais tanto nas suas descrições taxonômicas, quanto em testes de potenciais aplicações. E existe um outro ponto que vem junto com a exploração comercial, a preocupação para que a expansão do cultivo esteja alinhada aos princípios da sustentabilidade, utilizando o mínimo de insumos químicos possível. Com essa aposta nos fungos, a gente está utilizando tecnologias biológicas para uma cultura que visa uma cadeia produtiva sustentável.”