Da esquerda para a direita, Tomás, as professoras Catarina e Marliane, e o pesquisador José Maria, do Lamic

Um artigo desenvolvido em parceria entre pesquisadores do Programa de Pós-Graduação em Microbiologia Agrícola (PPGMBA) da UFV e do Instituto Federal do Espírito Santo (campus Venda Nova dos Imigrantes) mapeou a presença de micro-organismos no solo e no fruto de café. No artigo “Microbiomes associated with Coffea arabica and Coffea canephora in four different floristic domains of Brazil” publicado em novembro na revista cientifica Scientific Reports, o grupo apresenta micro-organismos associados ao solo e aos frutos de café com potencial para auxiliar na saúde do solo e da planta, otimizando as etapas de pré e pós-colheita, e tornando o processo mais sustentável ambiental e economicamente.

“Hoje em dia, usa-se muito adubo químico nas lavouras de café, e está aumentando a preocupação com os impactos ambientais que esses adubos podem trazer. Nossa aposta é no uso dos micro-organismos que já estão presentes na lavoura para gerar novos produtos e, quem sabe, aumentar a eficiência desses micro-organismos, na pré-colheita, para que eles possam substituir, ao menos parcialmente, a adubação química”, explica Tomás Gomes Reis Veloso, pós-doc do PPGMBA e primeiro autor do artigo. As amostras utilizadas na pesquisa foram obtidas nas plantações de café arábica e café conilon nas regiões do Centro-Oeste, Norte, Nordeste e Sudeste do Brasil, entre 2020 e 2021.

Entre as possibilidades encontradas pelos pesquisadores nesta etapa do trabalho estão as bactérias fixadoras de nitrogênio, presentes tanto nos solos de café arábica quanto de café conilon, e os fungos micorrízicos arbusculares, que têm capacidade de aumentar a área de absorção das raízes no solo e fornecer mais nutrientes, principalmente o fósforo, para a planta. “Nós encontramos esses fungos em algumas regiões que têm problemas de seca, e, de alguma forma, eles estão contribuindo para o desenvolvimento do cafeeiro. Agora, uma vez conhecido esse potencial, fica fácil imaginar que precisamos olhar mais a fundo para esses microrganismos e entendemos a melhor maneira de usá-los.”

Na etapa de pós-colheita, a aposta dos pesquisadores é que os micro-organismos possam atuar na melhoria do sabor do café. Entre as várias formas de processamento pós-colheita do fruto para gerar a bebida está o processo de fermentação microbiana, como acontece com a cerveja e o vinho. Mas, no caso do café, as melhores alternativas entre os diversos micro-organismos capazes de atuar nesta etapa ainda são pouco exploradas. “A tendência é o uso de micro-organismos já conhecidos e utilizados na fermentação ou mesmo culturas microbianas comercializadas para produção de pão, vinho e cerveja. Porém, o que descobrimos é que na própria lavoura do café já existem leveduras e bactérias que são nativas dali e que, provavelmente, dariam um sabor melhor na bebida do café”, diz Tomás.    

Próximas etapas
Em ambos os casos, o próximo passo dos pesquisadores é isolar esses micro-organismos em laboratórios e entender, a partir daí, a melhor maneira de explorá-los, inclusive criando produtos comerciais que podem até mesmo baratear os custos do cultivo tradicional. “Já isolamos alguns dos micro-organismos, e vamos agora focar na fermentação dos frutos. No caso do solo, já temos algumas bactérias fixadoras de nitrogênio isoladas, e a ideia agora é fazer os testes para ver a viabilidade delas na aplicação em lavouras de café”, adianta o pesquisador.

Na UFV, o trabalho é coordenado pela professora Marliane de Cássia Soares da Silva, do Laboratório de Associações Micorrízicas (Lamic). O intercâmbio de pesquisa com o grupo de pesquisadores do Coffee Design, coordenado pelo professor Lucas Louzada Pereira, no IFES, já dura quase dez anos. As amostras do café foram coletadas em viagens realizadas em fazendas de café pelo Brasil pelo grupo do IFES e processadas e analisadas pelo grupo da UFV. Entre os autores do artigo, também estão o pesquisador José Maria Rodrigues da Luz e a professora aposentada Maria Catarina Megumi Kasuya, ambos vinculados ao Lamic, além de Aldemar Polonini Moreli, professor do IFES, e Taís Rizzo Moreira, da Universidade Federal do Espírito Santo (UFES).