Diferentes SCOBYs (ao fundo) e películas celulósicas desidratadas (na placa de Petri, à frente). Foto: Fermico

O artigo  “Bacterial cellulose: Strategies for its production in the context of bioeconomy”, produzido por uma equipe de pesquisadores do Laboratório de Microbiologia de Produtos Fermentados (Fermico), coordenado pelo professor José Guilherme Prado Martin, ficou entre os mais baixados no site do Journal of Basic Microbiology. O dado se refere aos 12 primeiros meses após a publicação do texto, em 2022. O trabalho avalia e apresenta alternativas para produção da celulose bacteriana, vista como uma substituta mais barata e mais sustentável para a tradicional celulose vegetal. 

“Acredito que esse trabalho despertou tanto interesse porque representa uma possibilidade real de auxiliar a indústria. Se eu tenho um material que pode ser mais barato, ou que seja de produção mais fácil, isso ajuda muito. Outro ponto importante, eu acredito, está na robustez do nosso artigo, que é um trabalho multidisciplinar”, avalia André da Silva Rocha, primeiro autor do texto e doutor pelo Programa de Pós-Graduação em Microbiologia Agrícola. ““Tivemos uma visão mais voltada para a indústria no contexto da bioeconomia, uma visão mais voltada para a parte bioquímica e microbiológica do processo. Isso faz com que pessoas de diferentes áreas consigam identificar no trabalho coisas que as interessam, seja para a produção dos seus trabalhos acadêmicos ou até mesmo para a utilização e produção de celulose bacteriana.

Segundo André, o interesse pela celulose bacteriana é crescente também pelo fato de sua produção ser ecologicamente mais viável, característica cada vez mais importante para um grande grupo de consumidores e, consequentemente, para a indústria. “Tanto a celulose vegetal quanto a bacteriana precisam passar por um pré-tratamento. Mas os produtos utilizados neste processo, no caso da versão bacteriana, são muito menos agressivos à natureza”, ele explica. Além disso, entre as formas de produção desta celulose está a possibilidade de uso de resíduos industriais – especialmente levedura de cerveja e materiais de milho e de aveia – o que beneficia duplamente o processo, uma vez que reaproveita materiais que seriam descartados, gerando potenciais impactos ambientais

No texto, os autores exploram as vias de biossíntese em diferentes fontes de carbono para os principais microrganismos produtores, além do fluxo metabólico sob diferentes condições de crescimento e sua influência nas características estruturais e funcionais da celulose. Além disso, são discutidas as principais aplicações industriais e formas de reduzir custos e de otimizar sua produção utilizando fontes alternativas, como os resíduos industriais. “Nosso objetivo é justamente contribuir para o entendimento de como fazer com que seja viável a entrada mais efetiva da celulose bacteriana no mercado.” Hoje, essa celulose é usada pelas indústrias farmacêutica e da moda de forma significativa, mas ainda tem uma entrada tímida em mercados com grande potencial, como a indústria alimentícia. 

Além de André e do professor Guilherme, assinam o artigo a pesquisadora Bárbara Venturim, também integrante da equipe do Fermico, o professor Wendel da Silveira, do Laboratório de Fisiologia de Microrganismos da UFV, e as pesquisadoras Elena Ellwanger e Caroline Pagnan, do Programa de Pós-Graduação em Design, da Universidade do Estado de Minas Gerais (UEMG).